Venta tão forte, que o rio lava muita coisa com o tanto de água que o vento espirra na pedra, acho até que hoje seca as coisas que eu pendurei lá no varal. Faz tanto vento que mesmo aquela que não me visita faz tanto tempo vai chegar mais cedo por aqui. Aliás, faz tanto tempo que não vejo fazer tanto vento. Penso em sair na rua, andar no descampado espaço vasto sem casa pra nenhum lado, que é pra ver se o vento me faz andar sem usar o chão. Quando venta assim, o céu anda depressa, nem por isso a hora passa, o mobiliário de nuvens é que muda sem parar. De azul algo fica branco e isso me dá vontade de escrever. É que o vento na janela entreaberta, a cortina escapando pra fora, pede para eu vestir uma blusa. Com a cara no vento, o peito na malha e as mãos meio geladas, ouço melhor o que não me evapora. Venta um desejo de infinidades, um sentimento de teto com catavento, uns olhos querendo detalhes daquilo que o vento levantou e agora deu pra ver. E tem que ver rapidinho porque rapidamente tudo baixa outra vez, na rapidez do vento veloz. A memória não. Com o vento que venta lá nas artérias, essas coisas viram histórias e correm do teto pro chão da placidez. O vento fica. Depois vai embora e nunca sai daqui. Fazendo todo esse vento quero mais é fechar os olhos, subir dois degraus meio altos, levantar do chão o que me ocorrer e correr, correr, correr sem ver a partir de que vão o denso vira asa. Venta pra valer nesse dia de pássaros pendurados no teto, até me esqueço que esse era enfim o ventilador. A primeira vez que vi que ventou assim acho que foi quando eu nasci.
"Elas" é de uma delicadeza... uma poesia que toca a gente. Venta forte.
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