DESNUDAMENTO DAS MUDAS QUE SE TIRAM NA PROXIMIDADE ENTRE RAÍZES E CAULE
Entrar na sala assim de repente
na intimidade das coisas que estão
plenas de reservas de silêncios
dos movimentos que se passaram
e daqueles azuis represados
das espontâneas historicidades
sim, visitadas, e não, nunca
que pena! não existidas no plano aberto
Repousa na mesinha de centro
um único mobiliário não identificado
pelos olhos não mais míopes mas
neste relance do tempo-uva afogados
molhados em demasia, ou
vai ver que na medida que tinha que ser
sim, eu também choro na alegria
Na alegria triste da solidez do tic-sem-tac
ouve-se só metade da vida a andar...
Ela, a vida, bem que podia ensaiar uns passos
A vida bem que podia dançar flamenco
ou um sambinha amolecido por chocalhos
e ela pode, mas parece que não quer agora
Parou, quieta, de uma respiração curtinha
Tics tics tics tics tics, pra não incomodar
não quer ocupar o espaço todo, ou queria
Na verdade queria sim, mas nem tudo se consolidou
Ela queria contar histórias que nem foram todas
Ela queria ter vivido um pouco mais longo, o tecido
Queria ter dado um grito calmo na altura e na intensidade
pra sobrar depois a pouca tempestade dos dedos
dois deles só, girando gelos no copo
Ter luzes sobre o objeto na mesinha de centro!
Então foi pelo tato, mas a aspereza nunca é fácil
mas dá um prazer sentir...
Venta sobre as personagens e sobre o copo de chá
Esfria o nariz vermelho, venta esses ventos de querer voar
Voa-se no interior oco e confortável das caixas pequenas
Voa-se por debaixo das costelas, em segredo...
Em segredo até que uns olhos poucos revelem
Veja! Está voando! Com as garrinhas fincadas... aí sim...
Querendo dizer do todo, veja o que faz uma sala vazia:
os voláteis decupam todo o espaço em vida plena!
E agora dá até para sentir uma alegria pelos colares
sem fechos, inacabados, com os fios longos ainda,
as peças por procurar. Pois que os espaços fiquem
em branco assim desse jeito, a história se conta
por si só, divisa-se o objeto no centro da mesa e,
por intranquilo que seja, não se sabe o que é de fato,
pois que seja, pois que apenas seja e,
sabendo-se que é, sabe-se que sempre foi e noutro dia,
virá a ser. Recupera-se o tic-tac, sempre existido.
E o intranquilo objeto repousa, a sala vazia
na relatividade do vazio apenas e é só.
As histórias... de querer, acontecidas então
Na relatividade do todo que voa e sabe voar.
Agora dá até para sentir uma alegria e a vontade
Eu, que ia embora, até vou mesmo
E também vou ficar
A porta estava aberta
A chave estava lá
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