Eu estava aqui pensando que livro é uma coisa que venta na cabeça da gente. Venta a palavra do outro, a emoção, a sensação.
Faz diferentes tipos de vento. Alguns são aquele vento forte, que você não espera, que te traz coisas novas sobre as quais pensar. Coisas sobre as quais você nunca pensou. Nunca daquela maneira. Como um vento atravessado que levanta a barra da saia e te deixa exposta na rua. A sensação é aquela: estranhamento no começo, travessura no final.
Tem os que são a brisa suave do entardecer. Fazem acalmar o pensamento, sopram para longe as nuvens carregadas que turvam a vista. Como se ventando sempre na mesma direção, ajudassem a botar ordem na confusão geral que se abalava sobre um tema, um sentimento. Sopram e sopram de leve, suaves, sempre e sempre, até que te convencem.
E tem aqueles que se parecem com o momento mágico em que o vento para e começa a cair a chuva. Os que liquefazem os pensamentos e deixam a sensação de que é quase possível tocá-los. Como se, de repente, se pudesse ouvir pingar, uma a uma, as idéias que estavam espalhadas na sua cabeça, sobre a sua cabeça. Como se pingassem sobre as suas mãos.
Um livro está particularmente ventando nas minhas idéias neste momento. “A elegância do ouriço” de Muriel Barbery. Venta com frases como esta, que me fez tocar o pensamento:
"não dou a menor bola para o lugar onde estou, contanto que tenha a satisfação de circular sem problema dentro da minha cabeça"
"Elas": faro fino, letra inteligente...
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