Por mais que ele já não tivesse nenhuma dúvida sobre o amor dela, sentia que não a conseguiria alcançar. Ela vivia distante, em algum lugar que ele sequer imaginava qual seria, tampouco sabia se ali gostaria de também estar. Quando se olhavam nos olhos, ele tinha suave sensação de que ela estava alguns instantes para além do seu alcance. Ela estava lá, o olhava, mas era como se alguns poucos centímetros a mantivessem sempre longe dele. Longe no tempo, longe no espaço. Esse tempo-espaço misterioso, instante tanto esperado, tantas vezes jamais alcançado. Ela ali, além do que ele conseguia alcançar, por mais que se esforçasse. Com intensidade, segurava-a com todo o seu corpo na tentativa de chegar ali onde ela estava. Nunca conseguiu.
Ela compartilhava a sensação. Sentia que o olhava a alguma distância, um pouco afastada. Como se os visse, os dois, ele e ela, como se ela não fosse. Como se sua alma estivesse assim, quatro ou cinco centímetros mais para trás, para além, para antes ou depois. Distância pouca, mas tempo suficiente para não se sentir ali, como achava que deveria, que poderia, que queria. Verdadeiramente querida. Sempre faltava um pouco, faltava muito pouco. Do fundo do lugar, no tempo em que habitava, de alguma caverna de dentro de si mesma, ela estendia a mão, desesperada para alcançar a mão firme dele, desesperada para que ele chegasse até ela. Ele que já a tocava, mas que não a trazia para si, para fora, para o presente. Ela se desesperava para que a tirasse daquele lugar, daquele tempo, da distância de seu corpo. Mas ela nunca o alcançava. Nunca conseguia.
O que ele não sabia é que ela, distante, estava lá. E ela não sabia que ele, tão perto, não estava.
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