terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dispensa comentários "delas"

Tem coisas que não dá para explicar... como uma música tão contundente e que poderia soar sofrimento, pode nos fazer dançar sozinhos na sala, sorrindo? Refletir sobre aquilo que se sente e se sofre, sem dor? Com o que se convive, simplesmente. Por hábito, por necessidade, ou mesmo por preguiça? "Eu morro de amores, eu preciso aprender"


Dores de Amores
Luiz Melodia


Eu fico com essa dor
Ou essa dor tem que morrer
A dor que nos ensina
E a vontade de não ter
Sofrer demais, que fruto
Nós precisamos aprender
Eu grito e me solto
Eu preciso aprender
Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser
Sigo enganado ou enganando meu viver
Pois quando estou amando é parecido com sofrer
Eu morro de amores
Eu preciso aprender

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Presença

Por mais que ele já não tivesse nenhuma dúvida sobre o amor dela, sentia que não a conseguiria alcançar. Ela vivia distante, em algum lugar que ele sequer imaginava qual seria, tampouco sabia se ali gostaria de também estar. Quando se olhavam nos olhos, ele tinha suave sensação de que ela estava alguns instantes para além do seu alcance. Ela estava lá, o olhava, mas era como se alguns poucos centímetros a mantivessem sempre longe dele. Longe no tempo, longe no espaço. Esse tempo-espaço misterioso, instante tanto esperado, tantas vezes jamais alcançado. Ela ali, além do que ele conseguia alcançar, por mais que se esforçasse. Com intensidade, segurava-a com todo o seu corpo na tentativa de chegar ali onde ela estava. Nunca conseguiu.
Ela compartilhava a sensação. Sentia que o olhava a alguma distância, um pouco afastada. Como se os visse, os dois, ele e ela, como se ela não fosse. Como se sua alma estivesse assim, quatro ou cinco centímetros mais para trás, para além, para antes ou depois. Distância pouca, mas tempo suficiente para não se sentir ali, como achava que deveria, que poderia, que queria. Verdadeiramente querida. Sempre faltava um pouco, faltava muito pouco. Do fundo do lugar, no tempo em que habitava, de alguma caverna de dentro de si mesma, ela estendia a mão, desesperada para alcançar a mão firme dele, desesperada para que ele chegasse até ela. Ele que já a tocava, mas que não a trazia para si, para fora, para o presente. Ela se desesperava para que a tirasse daquele lugar, daquele tempo, da distância de seu corpo. Mas ela nunca o alcançava. Nunca conseguia.
O que ele não sabia é que ela, distante, estava lá. E ela não sabia que ele, tão perto, não estava.